Os tamanis do Orenoco têm nomes de etimologia desconhecida para os números até quatro;52 já o número cinco é expresso por uma palavra que significa na linguagem corrente mão inteira; para indicar seis empregam a expressão um de outra mão; o sete, dois de outra mão. E assim vão formando sucessivamente os números até dez, que é designado por duas palavras: duas
mãos. Para o onze, apresentam eles as duas mãos e mostram um pé, enunciando uma frase que poderíamos traduzir: um do pé; o doze seria dois do pé; e assim por diante, até quinze, que corresponderá
precisamente à frase: um pé inteiro. O número dezesseis tem uma formação interessante, pois é indicado pela frase um do outro pé; passando ao dezessete, diriam dois do outro pé, e do mesmo modo iriam formando os outros números inteiros até vinte, que é tevin itóto, isto é, um índio. O número seguinte ao tevin itóto, o vinte e um, para os filhos do Orenoco, corresponde à expressão: uma das mãos de outro índio.
Método semelhante é usado entre os groenlandeses, para os quais o numeral cinco é tatdiimat (mão); seis é arfinek ottausek (um sobre outra mão); vinte é inuk navdlugo (um homem completo). Vale a pena citar aqui, a título de curiosidade, a maneira pela qual os naturais da Groenlândia exprimem o número cinquenta e três. Esse número é expresso por uma frase que quer dizer literalmente: três dedos do primeiro pé do terceiro homem!
Em grande número de tribos brasileiras:53 cairiris, caraíbas, carajás, coroados guakis, júris, omaguas, tupis etc, aparecem, com algumas variantes, os numerais digitais: os omaguas empregam a palavra pua, que significa mão, para exprimir também cinco, e com a palavra puapua indicam dez; os júris, com a mesma frase, indicam, indiferentemente, homem ou cinco. Segundo Balbi, os guaranis dizem po-mocoi (duas mãos) para dez e po-petei (uma mão) para cinco.
No Bakahiri há nomes especiais para designar os números um, dois e três; o quatro é formado pela expressão dois e dois; o cinco é indicado por uma frase que significa dois e dois e um; analogamente formam o número seis, dizendo: dois e dois e dois. Desse número (6) em diante, limitam-se a mostrar todos os
dedos da mão (como aliás já faziam para os primeiros números), e depois todos os dedos dos pés, apalpando-os vagarosamente, dedo por dedo, demorando-se no dedo correspondente ao número.
É um exemplo admirável de uma língua onde o gesto indica o número, não havendo vocábulos próprios, senão para os três primeiros cardinais. E mesmo em relação à existência de vocábulos especiais para esses primeiros (um, dois, três) há dúvidas, pois Von den Steinen declara que na primeira viagem ouviu o numeral três expresso por uma palavra que significava, propriamente, dois e um; mais tarde, 1887, ao realizar uma segunda viagem, ouviu o mesmo número (3) indicado por outra forma, sobre cuja etimologia nada conseguiu apurar.
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